terça-feira, 22 de outubro de 2013

   A história da Festa do Produtor Rural de Teresópolis

     Começa nesta quarta-feira, dia 23, a Festa do Produtor Rural de Teresópolis. Organizada pela prefeitura, a Feport ocorre em Albuquerque desde 1989, quando foi aberto o Parque de Exposições. Dá c
Feira de 1951, nos salões da prefeitura
ontinuidade à Festa do Produtor Rural criada dez anos antes, em Bonsucesso, durante o governo Pedro Jahara. Acontecia desde 1980 em Vargem Grande e era, até então, feita pela secretaria municipal de Educação.

     Segundo a prefeitura, a Feport está em sua edição número 30. Mas, poucos sabem, antes de Pedro Jahara que a iniciou, de Celso Dalmaso que a manteve, e de Tricano e os governos que o sucederam guardando o formato atual, a “festa do produtor” de Teresópolis vem de tempo mais distante.

     Chamada “Feira de Theresópolis”, a nossa primeira festa agropecuária ocorreu em 1855, na praça da “Bragantina”, hoje bairro do Alto. Realizada nos dias 17, 18 e 19 de junho, a “feira” reuniu mercadorias de outras regiões, como tecidos e produtos da indústria nacional, servindo para a recém-criada freguesia mostrar os seus bois gordos, as vacas leiteiras, cavalos de raça e os porcos de engorda que alcançavam várias arrobas, revelando ainda a agricultura local, com o café, batatas, grãos e farinhas de mandioca, destacando-se a couve-flor de Teresópolis,  hortaliça que se tornaria a base da produção agrícola no município mais de cem anos depois.

     No auge da guerra mundial, quando os pracinhas de Teresópolis lutavam nos campos da Itália, e enfraquecia-se o governo do ditador Getúlio Vargas, foi reorganizada a nossa festa do produtor rural. Denominada como “1a. Mostra Agrícola e de Pequenas Indústrias”, serviu para comemorar os 53.o  aniversário do município, e o terceiro ano de governo do prefeito Lauro Antunes Paes de Andrade, interventor que mais durou no cargo - de julho de 1941 a fevereiro de 1945.

     A feira trouxe ao município que estava em festa autoridades dos governos estadual e federal. As delegações de políticos chegaram na estação da Várzea, de onde partiram em caravana para a praça de Santa Teresa, onde após a missa, foi feito um comício seguido de desfile das escolas municipais, onde destacaram-se, segundo a imprensa, “os cartazes com dísticos de saudações aos dirigentes do país e ao chefe do Executivo local”. Foram realizados ainda jogos de futebol e exibições de bandas de música.

     Embora a festa de 1944 pareça mais um desfile de políticos e de veneração à ditadura, a notícia dessa exposição relata a pujança da produção agrícola naquele período de racionamentos e estagnação econômica. Segundo relato do jornal Gazeta, nesse tempo Teresópolis produzia milho, abóboras, batatas doce, roxa e inglesa, inhame, couve-flor, cenoura, alho, café, tomate, mandioca, soja, arroz, vagem, quiabo e amendoin. E, ainda, além de aves e animais de vários portes, palmas e copos de leite, caqui, cana, repolho, nabos roxo e japonês, mamão, abobrinha, ervilha, chá, fumo, lima da pérsia, banana, batata baroa, laranja bahia, cidras, grape-fruit, mamona, xuxu, alface, morangos e os feijões preto, enxofre, branco e manteiga.

     Substituindo Paes de Andrade, entre fevereiro de 1945 e outubro de 1947, os interventores Roger Malhardes, Agnaldo de Figueiredo, Andrade Netto, Américo Viveiros e Fernando Pimentel não deram continuidade a essa feira. Ela voltaria em julho de 1947, depois da assunção à prefeitura do jovem José de Carvalho Jannotti, de apenas 31 anos. Técnico agrícola trazido a Teresópolis para acabar com a “praga do marmelo”, e quem tinha organizado a feira de 1944, onde se projetou, Jannotti criou a “Exposição Agrícola e Industrial de Teresópolis”, que foi feita até 1958, ocupando o pátio e os corredores e salões da prefeitura.

     Pouco lembrada hoje, a “exposição” iniciada por Jannotti em 1947 talvez seja a mais legítima de todas as festas de produtor rural realizadas em Teresópolis. As imagens guardadas pela memória municipal revelam a importância da agricultura em meados do século passado e a efetiva participação da indústria, do comércio e dos agricultores. Nabos de 18 quilos, inhames e batatas enormes, frutas e flores exóticas, mandiocas de três metros de comprimento... Móveis, máquinas, minérios, doces... A exposição era voltada para a agricultura e a indústria, e provocava o interesse da população em geral.

     A Feport dos últimos vinte anos pra cá agrada ao grande público. Mas, afastada cada vez mais do agricultor e do empresariado local, e atendendo a outro público alvo, é feita num modelo que provoca o desinteresse do industrial e do produtor rural. É um formato que contribui pouco para o desenvolvimento do município, sem contar o prejuízo que traz à memória local. Afinal, não fossem as festas de 1855 e as de meados e final do século passado, não teríamos desses períodos registros tão fiéis da história da nossa agricultura, e da indústria e comércio.

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